quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Menina das Flores



            Era manhã de sábado em plena primavera. O sol brilhava no alto do céu azul, o vento dava um leve balanço nas árvores e os pássaros cantavam alegremente. O dia estava perfeito.
            Vesti uma blusa e um “macaquinho”, coloquei chinelos nos pés, amarrei meus cabelos, peguei minha bicicleta e fui em direção ao parque.
            De pedaladas a pedaladas, observo a movimentação nas ruas. Homens lavando os carros, crianças andando de skate e bicicleta e mulheres cumprimentando a vizinha nova. Até agora tudo estava normal, nada de diferente ou estranho.
            Chegando ao parque caldeio minha bicicleta e sento em um banco. Novamente observo tudo ao meu redor, crianças brincando, as mães conversando e olhando, adolescentes jogando futebol e jogos de tabuleiro, certamente tudo como deveria estar.
            Todos os sábados eu ia ao parque, menos nos dias chuvosos. Gosto de ficar debaixo de uma árvore, lendo um bom livro e vendo as pessoas se divertindo, sendo felizes.
            Me acomodei e abri o livro. Comecei a ler, viajei no mundo literário. A flor de uma árvore cai no meu colo desviando minha atenção. Era uma flor de ipê, típico do final de inverno e na primavera. Foi então que tive uma ideia: colecionar flores.
            Certa vez vi em um canal de televisão que uma mulher colecionava flores desde pequena, ela os prensava em um caderno e a flor permanecia a mesma, só amassada e um pouco seca.
            Realmente me apeguei a esta ideia. No parque havia flores de varias espécies. Peguei minha bicicleta e comecei a caminhar em busca das flores.
            Nem eu podia imaginar da variedade de flores em todo o parque. Depois de passar a tarde colhendo, descido ir embora já que anoite se aproximava e o céu escurecia.
            Em vez de ir pedalando, decidi ir andando, curtir o finzinho de tarde, relaxar a mente. Estava perto do portão de saída quando uma voz masculina começa a falar comigo.
            - Olá menina ruiva.
            Mesmo sendo ruiva achei que não era comigo, mas um garoto apareceu do meu lado e olhava para mim. Ele tinha cabelos claros, olhos escuros e uma covinha do lado direito da bochecha.
            Não queria responder, porem também não queria parecer uma idiota qualquer.
            - Oi – Falei quase como um sussurro.
            - Vi que estava colhendo flores. Pretende fazer algo com elas?
            - Por um acaso vai me prender por “roubar” as flores do parque?
            - Não tenho autoridade para isso. – Deu uma gargalhada depois que terminei a pergunta e eu dei um sorriso sem graça. – Só gostaria de saber. É algum projeto de escola?
            Olhei nos olhos dele e me senti melhor, mais confiante, aliais ele só quer conversar.
            - Não. Quero colecionar flores.
            - Que ideia legal, gostei. Prazer sou Nicholas Lorenzo moro aqui no bairro.
            - Prazer em conhecê-lo. Sou Belinda Bloom Carter, moro algumas quadras daqui.
            - Que bom. – Ele subiu no skate. – Nos vemos em breve menina das flores. – E foi em direção a saída do parque.
            Fiquei parada ali, pensando o que realmente aquele garoto queria. Assim que cheguei em casa descobri que ele morava na casa da esquina que havia acabado de ser vendida.
 Tudo o que eu sabia era que essa nova família tinha descendência britânica e eram cinco pessoas. Chegaram no início da semana.
Joguei as flores em uma caixa e fui tomar banho. Depois do jantar, procurei um caderno onde colaria as flores, infelizmente não encontrei nenhum, sendo assim teria que comprar no dia seguinte.
Como era noite, não poderia sair de casa e uma enorme preguiça me consumiu. Descido então assistir um filme e em seguida dormir.
Na manha seguinte o céu amanheceu nublado, provavelmente choveria no fim de tarde. Comi um pão e tomei um copo com leite. Em seguida fui em uma pequena loja aqui perto, em buscar do caderno.
A fila era pequena, pois ainda estava cedo. Só não imaginava que encontraria ele de novo.
            - Menina das flores? - Ouvi a voz e olhei para trás, ele estava com um sorriso no rosto e cabelos um pouco bagunçado. Estava comprando pão. - Este caderno por uma acaso é par colocar as flores?
            - Oi. - Olhei para o caderno e respondi. - É sim. Pretendo começar a pesquisa ai da hoje.
            - Incrível. - Era a minha vez na fila do caixa. - Minha avó tem um livro com nome, características e desenhos das flores, está lá em casa, se quiser te empresto.
            - Serio? - Olhei para ele.
            - Dez reais. - A moça do caixa falou, cotando o clima.
            - Claro, só que com uma condição.
            - Qual. - Se aproximou do caixa.
            - Que tenho que te ajudar.
            - Tudo bem. - Claro que não queria, não sou do tipo de pessoa que  levam amigos para casa, mas gostaria de ver o tal livro.
            Acabamos indo juntos. Marcamos de nos encontrar na minha casa as uma da tarde e prometi não começar sem ele.
            Assim que cheguei fui para meu quarto e guardei o caderno. Depois dos afazeres da casa, pego uma pequena sesta de piquenique da minha avó e vou da uma volta no quarteirão a procura de flores.
            Para a minha sorte havia algumas árvores com flores e algumas em pequenos jardins na frente de algumas casas.
            Ainda não tinha muitas flores, mas o suficiente para começar uma coleção.
Era hora do almoço, então voltei. O cheiro estava ótimo. Mamãe preparava qualquer prato e todos perfeitamente deliciosos, eu por outro lado só seu fazer ovo cozido.
            Termino de almoçar, arroz, estrogonofe e batata palha, minha comida favorita.
            Fico na frente de casa esperando Nicholas chegar. Gotículas de água caem do céu, então fico na parte protegida da varanda. Poucos minutos depois eu o vi com uma sombrinha e o tal livro.
            - Bom vê-la menina das flores.
            - Você sabe meu nome.
- Sei sim Belinda, apenas gosto de te chamar de menina das flores.


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